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dados  não  deixam,  talvez,  transparecer,  enfim,  a  diversidade  e  o
                  contraste  que  só  os  olhos  é  que  são  capazes  de  captar,  podem
                  explicar melhor o que de maneira titubeante e quase aleatoriamente
                  se  estabeleceu  previamente  como  hipótese.  Sem  trabalho  de
                  campo,  por  mais  breve  que  seja  ele,  corre-se  também  um  outro
                  risco: o de se fazer geografia em cima de paisagens, de realidades,
                  de  espaços  e  territórios  apenas  virtuais.  E  bem  possível  que  se
                  chegue lá, tamanha é a tentação do progresso.

                  A Continuidade do Pensamento de La Blache

                             Assim  como  a  Kant,  Humboldt  e  Ritter  sucederam  mais
                  tarde  Ricthofen  e  Ratzel,  e  depois  destes  vieram  Penck,  Hettner.
                  Waibel  e  muitos  outros,  depois  de  La  Blache  vieram  outras
                  privilegiadas gerações de geógrafos - Lucien Gallois, Emmanuel De
                  \ lartonne. genro de La Blache. André Siegfried, Albert Demangeon,
                  Camena d’Almeida, Max. Sorre. Max. Derrieu. Pierre Deffontaines.
                  Jacques Ancel, Henri Baulig, Jean Brunhes, Pierre Monbeig, André
                  Libault.  Jean  Gottmann.  .André  Meynier.  Pierre  Gourou,  André
                  Cholley, Francis Ruellan, JeanTricart, Pierre George. Jean Dresch.
                  Jacqueline Beaujeu-Gamier, Georges Chabot, Femand Joly, Michel
                  Rochefort,  um  certo  Yves  Lacoste...  -  que.  como  o  mestre,  nos
                  enfeitiçaram  e  nos  encantaram  com  seus  escritos  quase
                  romanceados da Geografia - tamanha é a beleza literária dos seus
                  escritos  -  e  fizeram  chegar  até  nós  o  que  há  de  mais  sólido  e
                  verdadeiro,  irrefutável,  inquestionável  como  próprio  de  sua
                  epistemologia,  que  é  sua  razão  de  existir  como  ciência.  hoje
                  retomado por Milton Santos e et al.: a ideia original de totalidade. O
                  nosso  maior  geógrafo  foi  direto  beber  na  fonte  lablachiana  -  “a
                  riqueza  maior  da  Geografia  como  província  do  saber  reside,
                  justamente,  no  fato  de  que  podemos  pensar,  a  um  só  tempo,  os
                  objetos  (a  materialidade)  e  as  ações  (a  sociedade)  e  os  mútuos
                  condicionamentos  entretecidos  com  o  movimento  da  história.  As
                  demais  ciências  humanas  não  dominam  esse  rico  veio
                  epistemológico ” (Santos, M. et al., 2000, p. 2). Desse modo, fora
                  dessa  unicidade,  dessa  interrelação  e  interdependência  entre  a
                  natureza e a sociedade - que La Blache enfatizou desde o início, e
                  que os autênticos geógrafos jamais deixaram de utilizar como base
                  científica  do  seu  discurso,  segundo  nos  mostra,  por  exemplo,
                  Horieste  Gomes  em  sua  imensa  obra  geográfica  -,  ou  seja,  fora
                  dessa  visão  do  espaço-território  “como  um  todo  complexo  ”  em
                  oposição  a  “uma  visão  parcial  da  geografia  que  apenas  encontra
                  abrigo  nas  fragmentações  e  dicotomias  presentes  em  seu  próprio
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