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seio, o que a torna teoricamente frágil ”, como nos chama a atenção
Milton Santos & Cia., a Geografia não será respeitada, é bom
repetir, como ciência.
Diante de tantas preocupações, como estas manifestadas
por geógrafos da envergadura de Milton Santos, somos levados a
pensar que, desde o início, se dispunha de uma metodologia e de
um núcleo epistemológico já claramente definidos, como, de um
modo geral, os têm as denominadas ciências exatas, e que ao
longo do tempo foram sendo abandonados e desvirtuados a ponto
de descaracterizar a Geografia como ciência-disciplina e
transformá-la numa panacéia, numa espécie de cesta básica de
conhecimentos acerca de fenômenos tidos como geográficos -
espaço, tempo, território, lugar, homem, solo, sociedade, produção,
transporte, clima, relevo, vegetação, serra, mar, vento, chuva,
estrada... -, mas tratados separadamente, como que fragmentos
sem quase nenhuma relação recíproca. Um pouco disso é verdade,
mas muita coisa não é, porque, principalmente, desde Humboldt -
com sua ideia de uma física do mundo, que nada mais é que a
correlação e interação das forças, ou seja, o entendimento de que
todos os fenômenos do universo constituem uma unidade e uma
totalidade - que o discurso geográfico tomou-se “prisioneiro” da
ideia de totalidade. O que se lamenta e censura nesse manifesto é
o caráter pulverizado do ensino e do conhecimento geográficos, em
prejuízo da visão totalizadora, que, em última instância, é o ideal
máximo do verdadeiro pensamento geográfico. Ao longo do tempo
as oposições e dicotomias não passaram, é verdade, de pontos de
vistas alimentados por correntes de pensamento acerca das
relações entre indivíduo, natureza e sociedade que, ora umas. ora
outras, privilegiavam mais a materialidade ou a sociedade. Então,
as diferentes escolas geográficas tergiversaram em tomo dessas
oposições e daí nasceram as diferentes correntes de pensamento:
a velha e clássica Geografia, que apenas procurava fornecer uma
base. um quadro de referência aos estudos históricos, em que a
descrição pura e simples primava sobre as correlações e interações
mútuas entre os fenômenos; a determinista, em que o homem nada
mais era que um produto do meio; a possibilista, segundo a qual,
mesmo diante da “tirania da natureza” - como gostava de enfatizar
La Blache -, o homem tem a sua parte de liberdade de escolha e de
possibilidades; a teorética-positivista, para muitos a nova geografia,
em que teorias, modelos e métodos quantitativos dão à ciência
geográfica um certo ar de “exatitude”; a radical, em que os estudos
e as análises geográficas privilegiam a qualidade de vida e dão
ênfase às teorias marxistas acerca da natureza e da sociedade; a