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Humboldt ao longo de sua vida. Em carta ao - Sua obra predileta,
                  dentre  muitas  outras,  foi  a  primeira  -  Aspectos  da  Natureza,  na
                  realidade uma síntese da natureza como totalidade, demonstração
                  da  ação  mútua  de  suas  forças,  segundo  gostava  de  dizer.  Esse
                  axioma foi retomado em sua última obra - O Livro de Minha Vida -
                  publicado  sob  o  título  de  Cosmos  (em  seis  volumes):  “o  princípio
                  básico  desta  obra  compreende  a  tendência  a  entender  todos  os
                  fenômenos  do  universo  como  uma  unidade,  uma  totalidade...”.
                  Trata-se  de  uma  filosofia  cósmica  dedicada  em  particular  a  uma
                  geografia  universal  nova,  o  que  não  deixa  de  ser  uma  filiação
                  platônica e aristotélica (harmonia, totalidade, inteiro, unidade...).
                             Sua filosofia geográfica, influenciada, primeiro, por Kant e,
                  depois,  por  Scheling,  e  compartilhada  por  seu  amigo  Goeth,  era
                  holística na medida em que não há necessidade de nenhuma força
                  vital, ou de nenhum mecanismo, para se entender a relação mútua
                  da Natureza viva com a não-viva ou anórgica (cf. Scheling), ou seja,
                  as  relações  mútuas  entre  o  físico  e  o  orgânico.  Nessa  linha  de
                  pensamento, a idéia mecanicista é a tese, a vitalista é a antítese e a
                  holista é a síntese.
                             Indiretamente,  ao  falar  de  tipos  fisionômicos,  como  os
                  grandes desertos africanos, por exemplo, ou os altiplanos andinos,
                  Humboldt tenha talvez introduzido a noção de paisagem geográfica,
                  em que um elemento, uma morfologia, predomina sobre os outros
                  aí  existentes,  ou  seja,  sobre  a  diversidade  morfológica.  Tomando
                  como  exemplo  os  animais,  ele  dizia:  “na  girafa  predomina  o
                  pescoço  em  detrimento  do  corpo;  na  topeiraé  o  contrário  que
                  ocorre...”.  Para  ele  tratava-se  de  uma  espécie  de  lei  de
                  compensação.
                             Finalmente,  de  sua  Cosmos,  sublinha  o  professor  de
                  Oxford,  J.  N.  L.  Baker  (1949,  p.  366),  pode-se  destacar  como
                  originalíssimo o objetivo que Humboldt atribuía à Geografia Física,
                  por  ele  também  denominada  de  História  Natural  do  Mundo  ou
                  Teoria  da  Terra:  “o  objetivo  final  da  Geografia  Física  é  o  de
                  reconhecer a unidade na vasta diversidade dos fenômenos naturais
                  e em seguida, pelo raciocínio e pela organização das observações,
                  discernir a constância dos fenômenos em meio à aparências muitas
                  das vezes instáveis. Ao expor as partes terrestres do Cosmos, às
                  vezes torna-se necessário descer a fatos muito especiais, mas isto
                  somente para dar ênfase à conexão que existe entre a distribuição
                  atual  dos  seres  orgânicos  no  globo  terrestre  e  as  leis  de  sua
                  classificação  ideal  em  famílias  naturais,  analogias  de  organização
                  interna e evolução progressiva”.
                             Morre  Humboldt  e  com  ele  também  morre  o  entusiasmo
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