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Para  a  ocupação  cerâmica  de  nossa  região  de  trabalho,  e
               Região Sudeste, incluindo Espirito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e

               Minas Gerais, podemos dispor de milhares de elementos para elaborar
               qualquer  sequencia  lógica  de  raciocínio  e  conclusões.  Devo  colocar
               preliminarmente que as informações do Estado de São Paulo, no que
               diz  respeito  à  cerâmica,  até  este  momento,  ainda  são  muito
               fragmentárias:  temos  alguns  trabalhos  de  Sílvia  Maranca,  de  Luciana
               Pallestrini  e  sobretudo  de  Igor  Chmyz  no  sul  do  Estado.  Mas  para  o
               resto da região Sudeste existem muitas informações de pesquisadores
               conhecidos,  de  forma  que  há  um  embasamento  suficientemente
               tradicional que nos oferece numerosos dados.

               Tradição Una:

                           A nosso ver há, em nossa área, uma ocupação cerâmica muito
               antiga,  que  foi  possível  detectar  em  certos  locais  e  que  constitui  o
               primeiro  problema  que  podemos  discutir.  As  cerâmicas  mais  antigas,
               que  temos  até  o  momento,  são  aquelas  que  estão  sobre  sítios  já
               ocupados. Não tenho nenhuma cerâmica muito antiga que tenha sido o
               primeiro  horizonte  ocupacional  de  um  sítio.  Tanto  em  abrigos,  quanto
               em campo aberto, sobre os sítios da fase “A” da tradição Itaipu, de que
               falei hoje de manhaã, temos cerâmica nos níveis superficiais sendo das
               mais  antigas  do  Estado  do  Rio,  Outro  detalhe  que  destaco  e  que, na
               maioria das vezes, em nossa região, não se ve uma dicotomia flagrante
               entre a ocupação cerâmica e a pre-cerâmica: a impressão que se tem e
               de  que  a  cerâmica  não  representou  um  fator  revolucionário.
               Aparentemente, fugindo um pouco daquelas perspectivas europeias, a
               cerâmica  não e um fator que altere profundamente os padrões.Tenho
               exemplos de cerâmica Una sobre sítios do tipo “Corondo”(aqueles que
               estão entre sambaquis e pescadores), em que os artefatos de concha
               ou  osso  continuam  os  mesmos,  embora  mudem  um  pouco  as
               proporções da ocorrência; uma ponta ossea raríssimas vezes apresenta
               um feitio novo quando esta associada a cerâmica. Nas grutas mineiras

               os  artefatos  líticos  permanecem  mais  ou  menos  semelhantes  nos  pe-
               ríodos  que  conhecemos  como  pré-cerâmicos  e  como  cerâmicos.  No
               antigo Estado da Guanabara, em Guaratiba, temos inclusive cerâmica
               Tupiguarani sobre sítios de pescadores e coletores do litoral, fenomeno

               que  foi  identificado por  uma  coleta  nossa  como  sítios  de  coleta
               Tupiguarani,  quando  na  verdade  os  Tupiguarani  exerceram  essas
               atividades sobre antigos sítios ocupados pela chamada tradição Itaipu,
               permanecendo aquelas lascas assimétricas típicas de quartzo dentro do
               horizonte de ocupação Tupiguarani; não há uma alteração significativa.
               Não quero dizer com isso que a cerâmica e uma invenção local, e que o






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