Page 36 - OS-CULTIVADORES-DO-PLANALTO-E-DO-LITORAL
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Isso apenas me fez pensar um pouco e pensando e revendo a literatura
               me pareceu que não era o único caso de coincidência de cacos de duas
               tradições que são contemporâneas e parece que as vezes intercaladas.
               Ao lançar a hipótese, estava tentando suscitar o reexame do problema
               de preferência pelo próprio Igor, mas ele não quis mexer. Para mostrar
               que estou ciente do problema, no último parágrafo citei que não devia
               ser eu, que trabalho na periferia da distribuição, a propor uma mudança
               no interior. (Miller, 1978:33).
                           Era isso o que queria apresentar sobre Kaingáng.

               Pedro Ignácio Schmitz:
                           Quero  complementar  a  apresentação  de  Tom  Miller,
               oferecendo  um  esboço  das  tradições  ceramistas  do  Sul  do  Brasil,
               através  de  dois  mapas,  um  referente  a  colonização  dos  grupos
               ceramistas  Tupiguarani  (mapa  3),  o  outro  com  a  distribuição  das
               tradições ceramistas Itararê/Casa de Pedra, Taquara e Vieira (mapa 2).
                           Começo com as tradições Itararê/Casa de Pedra e Taquara do
               planalto sul-brasileiro. Quando sobrepomos a área de expansão dessas
               tradições  a  um  mapa  da  distribuição  da  vegetação,  observamos  que
               corresponde  à  mata  mista  com  pinheiros,  entremeada  de  campos.
               Alguns elementos são comuns nas tradições do planalto sul-brasileiro:
               habitações  subterrâneas,  cerâmica  pequena  temperada  com  restos
               minerais,  geralmente  bem  finos,  de  formas  semelhantes  e  decorada
               com técnicas semelhantes. Percebe- se uma diminuição da decoração
               plástica do sul a norte, da tradição Taquara para a tradição Itararê/Casa
               de  Pedra.  Os  grupos  parecem ter forte  apoio  em coleta,  onde  sobres

               saem os pinhões e os moluscos marinhos, e na caça. Seu domínio de
               plantas cultivadas parece ter sido pequeno e concentrado na utilização
               de grãos semeados, sem possibilidade de cultivar mandioca por causa
               do  frio  das  alturas.  Os  solos  pobres  não  lhes  permitiriam  expandir  os
               cultivos,  com  o  que  se  viam  obrigados  a  explorar  cuidada  samente  a
               apropriaçao de produtos naturais da mata, do campo e do litoral, para
               cobrir o ano inteiro.

                           As datas mais antigas da tradição Taquara estão no nordeste
               do Rio Grande do Sul, onde são conhecidos desde AD 140. As datas
               mais antigas da tradição Itararé/ Casa de Pedra estão sobre o rio Iguaçu
               e remontam a AD 420.
                           Seus  descendentes  genéricos  devem  ser  considerados  os
               Kaingáng, cuja área de expansão parece coincidir com essas tradições
               pré-históricas,  o  que  recoloca  o  problema  do  que  representariam  de
               fato, em termos de grandes sistemas culturais, as pequenas diferenças
               encontradas  na  cerâmica,  registradas  entre  as  tradições  Taquara,
               Itararé e Casa de Pedra. Tudo indica tratar-se de “fácies” cerâmicas de






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