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É  bom  saber  que  essa  técnica  de  brunidura  preta  existe  em

               Minas  Gerais.  É  brunidura  preta,  porque me  parece  que  voce  falou
               vermelha. Seria realmente polimento, a não ser que tenha um processo
               químico que daria vermelho em vez de preto. Esse e um ponto a ser
               pesquisado. O polido estriado também é técnica decorativa, na minha
               opinião.
                           Agora,  aparentemente, descobri a origem do assim chamado
               escovado: dá-se quando estão sendo adelgaçadas as paredes perto do
               começo  do  processo;  enquanto  estão  adelgaçando,  eles  raspam  com
               sabugo de milho, que vai deixando as paredes cada vez mais finas. Se
               o polimento está incompletamente feito, o que resta são as marcas do
               sabugo.
                           Agora,  o  problema  que  foi  proposto.  Coletando  material  do
               campo  e  comparando  com  material  de  Igor  Chmyz,  da  Universidade
               Federal do Paraná, eu podia ver que esse material Kaingáng se encaixa
               facilmente.  Os  Kaingáng  paulistas  se  encaixam  facilmente  dentro  da
               tradição Casa de Pedra, da qual ele me deu uma coleção (amostra) de
               cacos  representativos  que  reproduzem  claramente  o  mesmo  tipo  de
               tecnologia.  Quero  ressalvar  que  os  Kaingáng  paulistas  não  fazem  a
               brunidura  em  todas  as  peças,  só  em  algumas.  Alguns  fazem  o
               polimento  quase  até  o  nível  especular,  mas  não  inserem  no  material
               orgânico, resultando uma coloração mais clara.
                           No  município  de  Parapuã  há  um  sítio  que  deveria  ser
               investigado. Um grupo de jovens amadores, dirigidos por um professor
               secundário, fez uma coleta superficial de um grande sítio cerâmico, cuja
               cerâmica  é  na  maioria  claramente  de  tradição  Tupiguarani,  mas  uma
               certa  quantidade  é  dessa  que  defini  como  Kaingáng.  Não  sei  se  isso
               representa  uma  convivência  pacífica  ou  mulheres  cativas  levadas  a
               essa  aldeia.  Nessa  coleção  de  material Tupiguarani não  vi decoração
               texturizada (plástica), aparecendo só a decoração pintada. Pode ser o
               indicador  de  uma  época  na  qual  havia  relações  amistosas  ou
               inamistosas,  de  intercambio  de  material  cultural  entre  Tupiguarani  e
               Kaingáng.

                           Há outra tradição que Igor define como tradição Itararé. Há um
               caco  representando  a  metade  de  uma  tigela  de  tamanho  medio  para
               pequeno, que no interior é tradição Casa de Pedra e no exterior tradição
               Itararé.  Isso'  me  fez  voltar  a  fazer  uma  revisão  do  que  Igor  dá  como
               definiçao dessas fases, que a meu ver  não e uma definição, mas um
               resumo.  Discuti  isso  com  ele;  ele  concordou  comigo.  É  um  resumo
               extremamente fragmentário e as diferenças entre as duas tradições são
               basicamente  de  antiplástico,  de  tratamento  da  superfície  e  de  cor  da
               superfície. Particularmente ele me falou que há uma forma de boca que
               e tipicamente Itararé e essa tigela realmente tinha esse tipo de boca,






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