Page 30 - OS-CULTIVADORES-DO-PLANALTO-E-DO-LITORAL
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em termos de etnografia só poderiamos lançar mão, no Estado de São
               Paulo,  como  produtores,  de  três  grupos,  que  seriam  os  Guaianás,  os
               Kaingáng e os Oti.  É notorio que os Oti foram caçadores vivendo em
               movimento  constante  e  habitavam  os  campos  abertos.  Aí  esta  um
               problema que gostaria de colocar para o Estado de São Paulo: talvez
               vão lembrar que em 1970 apontei a região do rio Ribeira como sendo
               área que devia ser prioritária na pesquisa, uma área muito sensível que
               parece  ter  agora  um  programa  bastante  ativo.  0  outro  problema  que
               quero  propor  é  que,  no  Estado  de  São  Paulo,  ate  agora,  não  foram
               pesquisadas as moradias dos Oti para ver se há possibilidade de definir
               o que sejam. Há necessidade de procurar os lugares que Nimuendaju e
               outros,  como  a  Comissão  de  Estrada  de  Ferro  Noroeste  do  Brasil,
               indicaram  como  pontos,  onde  encontraram  Oti.  Eles  eram  caçadores
               vivendo  em  pequenos  abrigos  e  uma  das  razoes  da  limitação  da
               agricultura Kaingáng e que os Kaingang não podiam sair do mato por
               causa dos Oti. Os Kaingáng podem defender-se no mato, porque os Oti
               não entravam, mas não podiam sair do mato, porque aí os Oti cairiam
               em cima deles. No nosso estudo descartamos os Oti. Os Guaianás são
               uma coisa muito pouco conhecida: um povo que morava no litoral donde
               foram  expulsos  pelos  Tupiniquim,  sendo  empurrados  para  o  interior,
               onde se foram diluindo entre os Kaingáng. Há evidencia de que falavam
               a  mesma  língua  ou  ao  menos  uma  língua  muito  parecida.  Há  alguns
               sítios  em  São  Paulo,  que  seria  interessante  investigar,  onde
               historicamente  sabemos  que  houve  aldeamentos  de  refugiados
               Guaianás,  aí  encontrados  pelos  portugueses.  Esses  lugares  também
               devem  ser  investigados  para  ver  se  realmente  existe  ou  não  uma
               tradição  de  Guaianás,  distinta  da  Kaingáng.  Lanço  como  hipótese  de
               trabalho, testável no campo, que a resposta seria “não”.
                           Isso nos deixa como unico grupo, de que podemos lançar mão
               para a explicação, os Kaingáng.
                           Então  me  dirigi  aos  dois  postos  indígenas  habitados  por
               Kaingáng  e  fui  perguntar  se  lá  não  tinha  alguém  que  sabia  fabricar
               cerâmica  Kaingáng.  Realmente  havia:  encontrei  3  informantes,  2  dos

               quais  concordaram  em  fazer  cerâmica  para  mim.  Aí  fui  comparando
               essa cerâmica contemporânea ao mesmo tempo em que coletava cacos
               de lugares onde os  Kaingáng podiam  me informar quem havia sido o
               chefe do posto (na epoca chamada “cerâmica histórica”). Estou citando
               esses dados somente para mostrar que estava procurando toda especie
               de controle histórico. A cerâmica contemporânea, feita na minha frente e
               na posse dos índios, a cerâmica no museu índio Vanuire, em Tupã, que
               foi  catalogada  como  sendo  feita  por  ceramistas  especificas  (quase
               sempre  a  Kañrire,  que  foi  a  minha  principal  informante);  e  mais  a
               cerâmica  histórica,  portanto,  foi  comparada  com  a  cerâmica  pré-






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