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em termos de etnografia só poderiamos lançar mão, no Estado de São
Paulo, como produtores, de três grupos, que seriam os Guaianás, os
Kaingáng e os Oti. É notorio que os Oti foram caçadores vivendo em
movimento constante e habitavam os campos abertos. Aí esta um
problema que gostaria de colocar para o Estado de São Paulo: talvez
vão lembrar que em 1970 apontei a região do rio Ribeira como sendo
área que devia ser prioritária na pesquisa, uma área muito sensível que
parece ter agora um programa bastante ativo. 0 outro problema que
quero propor é que, no Estado de São Paulo, ate agora, não foram
pesquisadas as moradias dos Oti para ver se há possibilidade de definir
o que sejam. Há necessidade de procurar os lugares que Nimuendaju e
outros, como a Comissão de Estrada de Ferro Noroeste do Brasil,
indicaram como pontos, onde encontraram Oti. Eles eram caçadores
vivendo em pequenos abrigos e uma das razoes da limitação da
agricultura Kaingáng e que os Kaingang não podiam sair do mato por
causa dos Oti. Os Kaingáng podem defender-se no mato, porque os Oti
não entravam, mas não podiam sair do mato, porque aí os Oti cairiam
em cima deles. No nosso estudo descartamos os Oti. Os Guaianás são
uma coisa muito pouco conhecida: um povo que morava no litoral donde
foram expulsos pelos Tupiniquim, sendo empurrados para o interior,
onde se foram diluindo entre os Kaingáng. Há evidencia de que falavam
a mesma língua ou ao menos uma língua muito parecida. Há alguns
sítios em São Paulo, que seria interessante investigar, onde
historicamente sabemos que houve aldeamentos de refugiados
Guaianás, aí encontrados pelos portugueses. Esses lugares também
devem ser investigados para ver se realmente existe ou não uma
tradição de Guaianás, distinta da Kaingáng. Lanço como hipótese de
trabalho, testável no campo, que a resposta seria “não”.
Isso nos deixa como unico grupo, de que podemos lançar mão
para a explicação, os Kaingáng.
Então me dirigi aos dois postos indígenas habitados por
Kaingáng e fui perguntar se lá não tinha alguém que sabia fabricar
cerâmica Kaingáng. Realmente havia: encontrei 3 informantes, 2 dos
quais concordaram em fazer cerâmica para mim. Aí fui comparando
essa cerâmica contemporânea ao mesmo tempo em que coletava cacos
de lugares onde os Kaingáng podiam me informar quem havia sido o
chefe do posto (na epoca chamada “cerâmica histórica”). Estou citando
esses dados somente para mostrar que estava procurando toda especie
de controle histórico. A cerâmica contemporânea, feita na minha frente e
na posse dos índios, a cerâmica no museu índio Vanuire, em Tupã, que
foi catalogada como sendo feita por ceramistas especificas (quase
sempre a Kañrire, que foi a minha principal informante); e mais a
cerâmica histórica, portanto, foi comparada com a cerâmica pré-
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