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se vão introduzindo algumas plantas, como aconteceu em outras áreas
de cultivo. E em termos bem crassos poderiam ter sido semelhantes aos
grupos da tradição Una, Itararé e Taquara, onde parece predominar a
coleta e haver uma pequena suplementação agrícola. Este esquema de
um coletor que suplementa sua coleta e a sua caça com um pouco de
agricultura com certeza não existe mais na tradição Aratu, um grupo
agricultor que faz da planta cultivada o seu sustento básico.
Se a gente for procurar os sítios mais antigos dessa tradição
Aratu/Sapucaí talvez não os encontre nas áreas de mata fechada, mas
nas áreas de cerrado ou caatinga, onde o grupo ainda seria coletor, mas
onde existiriam pequenas áreas aptas para fazer algum tipo de cultivo.
À medida em que ele dominasse mais a sua técnica agricola, poderia
estabelecer-se no mato, sem maiores prejuízos, porque já estaria
dominando um sistema agrícola suficiente para alimentá-lo todo o ano.
Ondemar F. Dias:
Os dados etno-histéricos de diversos autores, que pude
levantar para a região do São Francisco Mineiro, referentes à invasão
pelos bandeirantes e desbravadores do interior, dizem que esses
grupos subiam o São Francisco e expulsavam antigos moradores das
cavernas locais e que esse grupo era portador de milho: seria o que
eles chamavam locamente de Catagua, que foram o dia dos e
aprisionados pelos bandeirantes. Evidentemente são dados muito
recentes mas que podem, na verdade, refletir uma situação tradicional.
Pedro Ignácio Schmitz:
As nossas datas mais antigas, para a tradição Aratu, estão
situadas em vales estreitos, onde o cerrado predomina sobre o mato, e
provavelmente os sítios de áreas de mata mais densa devem ter datas
mais recentes, alem de aldeias maiores. É mera especulação a respeito
de como se teria desenvolvido o sistema agrícola, que nos não
podemos captar plenamente só com a cerâmica. Quando a cerâmica
aparece, esse sistema já teria talvez 2.000 anos de cultivos, sendo a
cerâmica suficiente para captarmos apenas o que já está definitivo e
pronto, que seriam grupos agrícolas efetivos. Se temos milho a 4.000 ou
mais anos atrás, temos que pensar como foi que, aos poucos, nesses
contextos pré-cerâmicos a agricultura se torna lentamente efetiva até
desembocar em duas grandes tradições ceramistas, uma mais para o
sul (Una, Itararé, Taquara) e outra no Centro e Nordeste (Aratu,
Sapucaí).
Tom O. Miller:
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