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André Prous:
Se elas são importadas é porque são muito importantes.
Imagino muito mal uma agricultura incipiente importando plantas gráfico
básicas como o milho e de gráfico longe. Realmente não acredito que
haja uma agricultura desenvolvida a 4.000 anos, porque os vestígios
não dão margem para isso. Mas não entendo o processo como o milho
veio gráfico cedo para agriculturas muito incipientes gráfico afastadas
da zona de cultivo. É um problema para o qual procuro uma explicação.
Tom O. Miller:
Botanicamente não há nenhuma indicação de origem do milho
na América do sul, mas o que se devia levar em conta é que um
complexo agrícola normalmente não se importa num pacote fechado, de
uma só vez. Normalmente se observam constantes trocas de idéias, de
informações e de conjuges de grupo para grupo, atingindo em poucas
gerações grandes distâncias geográficas. Esse é um processo contínuo.
Se uma idéia entra numa área onde não é compatível com o que aí pré-
existe, não vai pegar, mas se é compatível com o que já existe, pode
ser adotada. Queria chamar atenção ao fato de que esta ficando cada
vez mais claro, em âmbito mundial, de que houve um longo período,
durante o arcaico, de experimentação com o transporte de sementes e
de raízes de um local para outro mais proximo de um local mais
propício. Temos exemplos de grupos indígenas na América do Norte,
que não praticavam a agricultura, mas transportavam produtos
silvestres de um ambiente onde os encontravam para outro local do
mesmo ambiente, onde estavam faltando; semeavam ou plantavam
raízes para deixar multiplicar e depois terem em outro lugar para a
coleta. Em todos esses casos podemos ver muito claramente que a
experimentação é com plantas locais: o resultado é toda uma série de
pequenos complexos agrícolas de pequeno alcance e de pequena
eficiência que posteriormente são substituidos ou simplesmente
enriquecidos por plantas de maior eficiência. Bem podemos estar diante
de um tema semelhante, sendo que para essa área nunca foi feito um
levantamento de informações etnográficas e históricas referentes às
plantas utilizadas por esses povos e que foram desprezadas pelos
europeus por serem ineficientes economicamente ou por terem um
sabor esquisito.
André Prous:
Estamos tentando uma coisa dessas particularmente com a
raiz que é chamada “batata de bugre”, que muita gente ainda come no
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